Precisamos falar sobre o Matanza
Postado em 30 de março de 2017 @ 08:34 | 41.801 views


As visitas do Matanza à capital gaucha são frequentes. E não à toa. A banda normalmente se apresenta em noites de domingo, coincidentemente domingos chuvosos, onde maioria do público precisa acordar cedo no dia seguinte para trabalhar (sem contar que é um show que incentiva um bocado o consumo de álcool). Sendo assim, estamos falando aqui de um público não só fiel, mas disposto a enfrentar a ressaca segunda de manhã para ver o Matanza.

E muita gente chegou cedo na fila. Antes do anoitecer nós conversamos com alguns admiradores da banda, que alongavam-se durante mais de meia quadra do Bar Opinião. Em três conversas distintas, encontramos um jovem que, em oportunidades passadas, foi nocauteado pela cerveja antes mesmo da entrada ser liberada. Após ele, também abordamos a frustração de um fã de longa data, que acompanha todas as informações do Matanza, mas que se demonstrou infeliz em ter que doar 1kg de alimento para ganhar desconto no ingresso (hilário). Por último, afastando a ideia de que o Matanza é uma banda que faz música para beber e brigar, encontramos uma família… Duas primas adolescentes que conheceram a banda em 2012, uma acompanhada do pai e outra da mãe.

Bebedeiras, frustrações e ansiedades à parte, foi apenas o show começar que os problemas foram deixados da porta para fora. Energia de começo ao fim, um setlist repleto de clássicos, poucas pessoas derrotadas pela bebedeira e mais uma vez o Matanza coloca sua bandeira em Porto Alegre. Tudo isso você pode conferir abaixo no vídeo que produzimos.

Entretanto, precisamos falar sobre algumas coisas relacionadas ao Matanza… Haters na internet são como mato, nem sempre com argumentos que fazem muito sentido e, logicamente, o Matanza não foge disso. São inúmeras as críticas à banda os chamando de falsos, por cantarem sobre algo que não vivem. Isso porque, nos camarins, sabe-se que eles raramente estão “todos bêbados, bêbados de cair”. O vocalista, apelidado como Jimmy London, é o alvo mais recorrente. “Playboy“, “riquinho“, “sustentado pelos pais“, “nunca trabalhou na vida“, e daí por diante.

Tem muita coisa errada nesse falatório e abordaremos por parte. É fato que a banda possui uma performance (tanto nos shows e nas letras) que é tremendamente artística. Qual é o problema de criar um personagem? A arte não é justamente a criação de mundos fantasiosos para nos permitir fugir da realidade? Entrevistei Bruno Munk London, verdadeiro nome de Jimmy, três vezes. Já havia notado o personagem. Bruno é Bruno e Jimmy é Jimmy. A voz em palco muda. A atitude em palco muda. Sinceramente, das vezes em que estive no camarim do Matanza eu nunca o vi bebendo. E qual é o problema disso? Representar é uma arte. Criar um conceito é uma arte.

Se nasceu em família rica ou não, quem disse que isso é da nossa conta? Ninguém tem culpa de nascer pobre e ninguém tem culpa de nascer rico. O Matanza existe desde 1996, portanto são pelo menos 20 anos trabalhando em uma das bandas de rock que mais faz show no Brasil atualmente. Vocês imaginam o quanto isso é trabalhoso? Se eu passo um final de semana em algum lugar que seja necessário ir de avião, volto super cansado (mesmo que de férias). Imaginem então circular por aeroportos, hotéis, traslados, etc diversas vezes no mês… Aí vem alguém dizer que ele nunca trabalhou? Você faz ideia do quanto é desgastante o processo de ir do zero até um disco gravado? Isso tudo precisa ser repensado.

E o grave é que todos nós (eu e você) se tivéssemos nascido em uma família rica, como alegam que a dele é, não trabalharíamos! Faríamos igual ao que estamos criticando. Mas já que não temos a oportunidade, vamos falar mal. É esse o pensamento?

E o mais grave ainda é a acusação de que ele é “sustentado pelos pais“, que perdura ainda hoje, alguns meses após o falecimento do pai de Bruno (não de Jimmy, de Bruno, o cara que tem uma família e que ficou de luto pelo pai).

Mas voltando à banda como um todo: há também quem julgue que “eles são falsos, pois não vivem o que cantam“. Interessante é que a mesma pessoa que faz esse discurso idolatra o Slayer. Nada de errado com o Slayer, mas é uma banda cujo vocalista é cristão e não acredita em nada que a banda fala em suas letras.

Obs.: Entrevistamos o Jimmy após o show de Porto Alegre e ele falou sobre quando recusou entrevistar o Slayer. Veja abaixo:

Outra acusação que ouvi foi “mas eles não acrescentam nada culturalmente“. Bom, a arte por si só já é cultura. Quem disse que música precisa ser cultural? Não existe um pouco de hipocrisia nisso? Aliás, quando criticamos outros ritmos musicais por suas letras, não estamos sendo hipócritas? Vocês conhecem o Kiss, correto? Eles são donos de uma das melhores músicas da história do rock n’ roll (na minha humilde opinião) que se chama Love Gun. Para os que não conhecem, ela fala basicamente sobre estar de pênis ereto por causa de uma mulher. Inspirador, não?

A partir do momento que a música é obrigada a falar algo, perde-se o conceito da arte. A música é livre, portanto não possui nenhuma obrigação. Sua missão é entreter. O que presenciamos em Porto Alegre? Ame ou odeie, goste ou não goste, critique ou respeite, o que vimos foi centenas de pessoas completamente entretidas. Missão cumprida.

Você tem todo o direito de não gostar da banda que for. De, inclusive, argumentar o por quê de não gostar. Porém, destratar um trabalho árduo ou atacar a vida pessoal dos artistas por causa do seu desafeto musical é algo quase patológico. Como exigir que a “cena” se fortaleça quando seus próprios fãs a corroem, de dentro pra fora?

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Formado em jornalismo pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS) desde 2014, iniciou a jornada nesse meio colaborando em diversos sites especializados em rock e heavy metal ainda em 2007. Fundador do Heavy Talk.

 
Categoria: Artigos · Entrevistas · News · Resenhas
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