Entrevista com Save Our Souls
Postado em 23 de novembro de 2015 @ 13:14 | 2.058 views


Na ativa desde 2009, a Save Our Souls, formada em Porto Alegre, vem se destacando pela qualidade das suas composições, num estilo próprio e único, auto-intitulado como Gothic Prog Metal.

Formada por Melissa Ironn (vocal/teclados), Marlon Lago (guitarra/backing vocals), Andrêss Fontanella (bateria) e Jackson Harvelle (baixo), a Save Our Souls integra em suas composições diferentes influências dos membros.

Seu primeiro trabalho de estúdio, lançado ainda de forma independente, foi a EP Find The Way, um material simplificado contendo apenas quatro músicas próprias, lançado oficialmente no dia 10 de abril de 2010, no show de abertura para a banda Kamelot.

Em janeiro de 2015, a banda laçou de forma gratuita disponível para download e audição o single Soul Domination, apresentando uma prévia do álbum The Otherside. E o Heavy Talk realizou esta entrevista exclusiva para falar a respeito do primeiro disco da Save our Souls.

 

Foto promocional com integrantes da banda Save Our Souls

 

Olá. Obrigado pelo tempo e disposição de vocês. Gostaria de saber primeiramente como vocês se conheceram.

Melissa Ironn: Nós que agradecemos pelo espaço! Bem o Marlon e eu nos conhecemos no ensino médio. Ele já tinha uma amizade com o Andrêss e então nos apresentou em 2006, que foi quando nós três apenas começamos a tocar em estúdio de ensaio alguns covers, sem pretensão alguma naquele primeiro momento. Somente anos mais tarde, em 2012, depois da saída do nosso amigo Cassiano Diesel da posição de baixista que conhecemos então o Jackson que nos contatou após saber que estávamos à procura, quando o Tomás (baixista da Daydream XI) passou a informação para ele. Mas ele já conhecia o trabalho da banda naquela época através da nossa EP Find The Way que estava disponível na internet desde 2009.

Vocês seguem uma linha sonora que muitas vezes é comparada com bandas como Nightwish e Epica. Quando vocês começaram a tocar, quais eram as grandes inspirações musicais que os moviam?

Melissa: Ih, essa resposta é longa, hehe… Esse tipo de comparação é extremamente comum, ainda que eu não concorde. As pessoas tem uma forte tendência a generalizar as coisas, quando uma banda se apresenta as pessoas logo querem saber qual o tipo de som da banda e daí vem a necessidade de rótulos e comparações.

Então quando se tem uma banda com vocal feminino e também a presença de teclados em arranjos mais sinfônicos, muitos ouvintes acabam fazendo uma análise muito superficial da banda e comparando com essas bandas como Epica e Nightwish, o que é uma pena. Afinal, ok! Já que é metal e tem esse caráter sinfônico, pode-se rotular de metal sinfônico se quiser e se houver a necessidade, mas é só isso… Nunca buscamos nenhuma semelhança com essa ou outras bandas. E acho que o que toda banda quer, assim como nós, é que sejamos vistos como nós somos!

Há casos em que as influências são muito nítidas e realmente há grandes semelhanças entre as bandas, mas há casos em que, para se conhecer a real personalidade da banda, é preciso observar além da superfície.

A Save Our Souls é repleta de divergências. Somos 4 pessoas muito diferentes em personalidade e também em influências. Isso se reflete nas nossas músicas… Existe muito heavy e thrash metal nas guitarras, com riffs quebrados e pesados, existe também a presença do prog na bateria e baixo, e minhas linhas vocais e os teclados são inspirados em trilha sonora cinematográfica. Gosto de climas intensos, melodias densas, mas principalmente sobrepostos ao peso do metal. É isso que nós somos! A soma que quatro pessoas e músicos que trabalham em sinergia e constroem sua própria música, que é o que pode ser conferido no “The Otherside”.

Mas no geral, ainda há muita gente que permanece no óbvio e resolve a equação da seguinte forma: banda de metal + vocal feminino+ presença de teclados = Mais uma banda “tipo Nightwish”… Mas sinto que esse é o nosso grande desafio! Como esse álbum é o nosso primeiro, estamos buscando cada vez mais formas de trazer a tona o que somos e se fazer entender melhor pra não cair mais em tanta comparação…

Andrêss Fontanella: A Save Our Souls sempre foi muito eclética na questão de influências e o sinfônico sempre esteve no meio dessas influências, mas nunca tivemos bandas específicas que nos guiavam no começo da banda, sempre tentamos criar uma sonoridade meio que nossa e de agrado geral dentro das nossas influências. Pra ter uma ideia, falando da minha parte, sempre escutei coisas mais progressivas, alternativas e pesadas, tipo Devin Townsend, Meshuggah, Evergrey, Mars Volta, Frank Zappa, Nevermore e etc.

Na questão de comparações, é comum. Normalmente, quando se tem uma menina no vocal e teclado na banda, algumas pessoas já taxam de clichê ou banda que parece cópia de outra, mas nós como banda sempre tivemos como objetivo buscar se diferenciar dentro do estilo e essa busca nunca vai terminar, até porque queremos a estar sempre evoluindo musicalmente.

Jackson Harvelle: As duas grandes Influências para mim sempre foram o Dream Theater e o Nightwish. Na hora de escrever uma música, no entanto, eu deixo fluir, com a ideia da música. Quanto ao fato de que a banda por vezes é comparada a Nightwish e Epica, infelizmente é assim mesmo. Se a Melissa cantasse somente em Gutural diriam que a Save Our Souls soa como uma pastiche de Arch Enemy com The Agonist. A Verdade é que dentro do Metal Sinfônico com vocal feminino, acaba que a maioria do público acha que tudo é a mesma coisa. Contudo, mesmo que uma banda compartilhe o mesmo estilo com outra, ainda assim tem outros tipos de influências, na parte de letras e conceitos. Eu posso dizer que a Save Our Souls é uma soma de todas as nossas influências, e sim, acho que as bandas citadas incluem-se neste processo indiscutivelmente.

Ouvi dizer que vocês – ou pelo menos maioria de vocês – nunca haviam tocado em uma banda… Que a Save Our Souls é o primeiro projeto musical em que se envolvem. Infelizmente, maioria dos músicos passa por uma grande quantidade de projetos mal sucedidos até conseguir lançar um álbum, mas vocês estão lançando o debut da banda, “The Otherside”. Qual foi o diferencial para não passar pela ‘fase dos projetos mal sucedidos’?

Andrêss: Realmente da minha parte, da Melissa e do Marlon, foi a nossa primeira banda. Desde o começo da banda que consideramos ser em 2009, que é quando começamos a fazer shows, sempre levamos a banda com seriedade e comprometimento, buscando se informar sobre qual seria o melhor caminho a seguir, tentando evoluir e apresentar o melhor dentro do nosso possível. Creio que o nosso diferencial foi todos na banda sempre terem o pensamento alinhado nisso.

Melissa: Nós começamos ainda muito jovens com 15 ou 16 anos, nem poderíamos querer algo profissional, apenas estávamos nos divertindo. Mas dois anos depois é que fomos para as ruas, fazer shows e então, já com composições prontas, começamos a jornada e gravamos a EP. A partir de 2009 que considero o início da banda mesmo, entende? A partir daquele momento sim, nós passamos a profissionalizar o nosso trabalho e encará-lo como tal.

Acredito que o grande segredo está nas pessoas! Afinal, na banda existem pessoas que fazem música. É preciso entender que o músico não se separa de si próprio, então quando temos um grupo de pessoas formando uma banda, o mínimo necessário para seguir adiante é que todos sejam compreensivos quanto às diferenças, sejam democráticos, e que amem o que fazem e também uns aos outros. A troca entre os músicos enquanto seres humanos é fundamental e isso se reflete na sua arte. Se não existe troca entre as pessoas, não existe música de verdade É o que difere entre ter uma banda e ser uma banda… somos pessoas diferentes, com opiniões e ideias diferentes, mas existe algo muito maior em questão. Damos a vida pela nossa música e isso é o que nos une. Ter uma banda é ter uma família, pelo menos para nós… E, acima de tudo, unidos dessa forma, precisamos enfrentar as dificuldades.

Jackson: Justamente. Até complementando a resposta anterior, eu tive alguns projetos anteriores à Save Our Souls, uma banda tributo ao Nightwish chamada Illuminatta, que foi dissolvida em 2010 ou 2011 creio eu, e a partir daí fui fazendo alguns projetos com outros músicos, até surgir a oportunidade de tocar com a Save Our Souls. O meu sonho sempre foi gravar um álbum e, quando entrei na Save, dei de cara com o mesmo sonho de outras três pessoas. Foi muito realizador.

Há alguns anos atrás, muito se falou da união e desunião das bandas de heavy metal no Brasil. Vocês tem proximidade com bandas locais ou foram auxiliados por alguma? Não que a caminhada em linha reta ao álbum debut não seja mérito de vocês, mas existiram outros músicos cujo apoio foi importante para chegar até aqui?

Andrêss: Falar sobre a cena metal é meio complicado, pois há muitas verdades e contradições dentro do que é dito como união do cenário metal e, na nossa experiência dentro desse cenário (caótico, diga-se de passagem, hehe), tivemos a sorte de ter pessoas que estenderam a mão pra nós e nos apoiaram e nos ajudaram sendo emprestando equipamento, nos chamando para fazer shows ou dando dicas do que fazer em certas situações com a banda. Algumas dessas pessoas são o Fabiano Müller, do Tierramystica, Francis Cassol, baterista do Scelerata e até mesmo o Magnus Wichmann que produziu o nosso primeiro EP.

Melissa: Conhecemos o mercado, a cena, e por isso sabemos que não há como caminhar sozinho. Shows acontecem no underground porque as bandas se unem e organizam os eventos. Além disso, sempre há lago a se aprender uns com os outros! Nós tivemos e temos em nossa caminhada bandas cover e também autorais que dividiram e dividem a estrada conosco e participaram de alguma forma na nossa construção.

Fica na lembrança cada banda com a qual dividimos palco, desde o início, e ainda mantemos contato com algumas delas ou mesmo alguns integrantes daquelas que já se desfizeram. O mais importante de tudo é que cada passo faz de nós quem nós somos, sempre há uma troca. E o resultado do que nós somos está no “The Otherside”. Por isso, eu penso que cada banda e cada músico que cruzou conosco até aqui, participou disso, porque fez parte da nossa história.

Jackson: Infelizmente não podemos dizer que o que mais tivemos foi ‘apoio de outros músicos da cena’, o que honestamente não nos deixa tristes de forma alguma. Entendemos que para cada músico é uma luta constante, mas na medida do possível tivemos pessoas que nos apoiaram desde o inicio como é o caso do pessoal do Tierramystica, em especial o Fabiano, que sempre buscou nos incluir nas programações da banda por acreditar no trabalho sério que a S.O.S busca demonstrar. Mas sim, o apoio de outros músicos, assim como fãs, familiares e amigos, foi imprescindível para a realização do ‘The Otherside’.

Além disso, vocês tocaram com algumas bandas internacionais. Quais foram e como conseguiram a oportunidade?

Melissa: Sim, já dividimos o palco com algumas bandas internacionais como banda de abertura algumas vezes. Primeiro para o Paul Di’nno, depois Hangar, Kamelot, Soulspell Metal Opera, Tierramystica e Nightwish. Essas oportunidades surgiram através de contatos mesmo que fomos estabelecendo através do tempo e da atuação da banda na cena. Depois do primeiro, a gente acaba conhecendo pessoas envolvidas na produção deste tipo de evento e aí surgem as oportunidades quando o trabalho da banda é de agrado da produção.

Qual foi a parte mais difícil no processo de gravação do “The Otherside?

Melissa: Para mim particularmente, o mais difícil foi a gravação dos vocais, mais do que os teclados e orquestrações. Porque foi um processo completamente diferente do que tivemos na gravação da EP anos atrás. Dessa vez, entrei em estúdio com outra maturidade, mais preocupada com qualidade, desempenho, interpretação e outras questões. Minha voz e técnica também mudaram ao longo do tempo, então essa foi a hora em que eu redescobri minha voz, em pleno ato de gravação. É bem diferente ouvir a própria voz em estúdio de ensaio e em um estúdio de gravação. Foi outra percepção completamente diferente e tive que fazer tudo para me adaptar a nova situação.

Mas também considero que foi bem complexo e cansativo o momento da mixagem e masterização do álbum, porque fomos completamente envolvidos neste processo. Apesar da parte prática/técnica ficar a cargo do nosso produtor Diego Voges, fomos muito participativos e ele nos deus liberdade de fazer soar o álbum como desejávamos a partir das nossas opiniões. Então tínhamos que ouvir várias e várias vezes, fazer diversas alterações, chegar a um consenso sobre timbres, volumes e outros detalhes minuciosos que fazem diferença no resultado final. No geral, tudo foi uma descoberta nesse processo, um grande aprendizado.

Andrêss: Na minha visão, não tivemos momentos difíceis em si, mas sim momentos que exigiram mais de nós, pela questão do cuidado aos detalhes e o nível de qualidade que estávamos querendo atingir no nosso trabalho, como a mixagem e masterização do CD por exemplo.

Agora que o CD já está disponível, qual é o próximo passo? Sei que vocês já realizaram alguns shows após o lançamento, o que vocês tem em mente até o final desse ano?

Melissa: A ideia mesmo é seguir divulgando o “The Otherside” através de shows onde for possível, e também nos mais diversos canais de comunicação alcançáveis. Não é descartada a possibilidade de produzir algum material audiovisual, mas também não é algo que possamos afirmar com certeza ainda.

Andrêss: Estamos nos concentrando em compor para o próximo CD e fazer mais alguns shows até o final do ano.

Onde as pessoas podem adquirir o “The Otherside” e, mais importante, por que as pessoas devem adquirir?

Melissa: O The Otherside agrega novos elementos antes não tão explorados no metal sinfônico. Melodias densas e sombrias são amparadas por um mix de peso e sinfonia, onde além da presença de orquestrações e, apesar dos vocais femininos, o peso do heavy e trash metal está fortemente presente nos riffs quebrados e por vezes mais rústicos, executados pelas cordas e bateria. Marca o início de uma nova visão do metal sinfônico, mesclando diversas vertentes do metal.

O álbum pode ser adquirido em formato físico através do site da banda, na parte de merchandise, ou no site da Shinigami Records. E também, para quem prefere o formato digital, é possível comprar o download no nosso site, na nossa página oficial do Facebook na music store ou no site da CD Baby.

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Categoria: Entrevistas · News
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